
As medidas protecionistas adotadas pelo presidente
dos Estados Unidos, Donald Trump, estão provocando um desarranjo
na economia global, construída ao longo de décadas com base em acordos
internacionais. A avaliação é do
empresário Jorge Gerdau Johannpeter, que vê nas ações do líder
americano uma possível tática de negociação.
“As medidas do Trump estão desequilibrando esse processo
histórico. Mas que são quase como um processo político de pôr o problema para
ser rediscutido. Eu entendo assim. Isso é um tema muito complexo. Talvez uma
das perguntas mais difíceis de responder é saber qual é o real objetivo que
Trump tem com isso”, disse Gerdau em entrevista ao Valor,
durante evento da Junior Achievement, ONG de educação, na quinta-feira (8), do
qual o empresário é o primeiro grande incentivador no Brasil.
A fala de Gerdau veio pouco antes dos governos dos
EUA e do Reino Unido anunciarem o primeiro acordo na guerra tarifária que afeta
o mundo todo. Pelo pacto firmado, na última quinta-feira, as montadoras britânicas
terão uma cota de 100 mil carros com uma alíquota de 10% ao invés dos 25%
anunciados inicialmente por Trump.
No fim de semana, representantes dos Estados Unidos e China
estiveram reunidos, em Genebra, para debater sobre as alíquotas. Segundo o
secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, houve “progresso substancial” e
mais detalhes serão divulgados nesta segunda-feira (12).
A situação é similar ao que ocorreu no setor siderúrgico em
2018, quando Trump estava em seu primeiro mandato como presidente dos EUA. Na
ocasião, os governos de Estados Unidos e Brasil renegociaram o estabelecimento
de cotas de exportação para o mercado americano de 3,5 milhões de toneladas de
semiacabados/placas e de 687 mil toneladas de laminados. A medida flexibilizou
decisão anterior de Trump que havia estabelecido alíquota de importação de aço
para 25%.
Nos últimos anos, a tarifa estava em 10%. A decisão de Trump
agora eleva a alíquota a 25% para todo o setor de siderurgia
brasileiro. Gerdau explicou que o setor está em negociações com o
governo brasileiro, mas ainda não é possível mensurar os impactos da medida. O
desafio do setor é mostrar ao governo dos EUA que o aço brasileiro desempenha
um papel complementar na sua indústria.
Siderurgia brasileira
Já sobre sua siderúrgica, o empresário diz que a unidade
brasileira, que tem acordos de exportação importantes, está sendo prejudicada,
mas a companhia é também dona de uma operação relevante no mercado americano e,
por isso, tende a ser beneficiada. “Os Estados Unidos, tradicionalmente, eram
grandes parceiros com algumas empresas. A Gerdau, dentro desse processo,
sofre um impacto global do mercado de aço. Mas como nós temos uma equação
internacional muito grande, nos Estados Unidos é o contrário.”
A companhia tem dito, em teleconferências com investidores e
conversas com jornalistas, que já observa sinais de melhora em suas operações
nos Estados Unidos, após o decreto Trump. Com 30% de capacidade ociosa no
mercado americano, a siderúrgica vê espaço para ampliar a produção sem necessidade
de novos investimentos.
A Gerdau produz cerca de 4 milhões de toneladas de
aço por ano. Se optasse por algum incremento de capacidade, a empresa poderia
adicionar mais 1,5 milhão de toneladas à sua produção anual.
Aço chinês no Brasil
Outra preocupação do empresário é a entrada de aço
chinês no mercado brasileiro. Empresas do setor, como Usiminas e a
própria Gerdau, subiram o tom e ameaçam adiar ou suspender investimentos,
caso o governo brasileiro não tome medidas antidumping contra o que
eles consideram invasão do aço chinês.
Segundo o empresário, a China tem uma sobra de 100 milhões
de toneladas de aço por ano devido à estagnação de obras da construção civil
naquele país. Esse volume é quatro vezes a produção e consumo do Brasil que
gira na casa dos 25 milhões anuais. Gerdau reclama que as
siderúrgicas chinesas, boa parte delas estatal, colocam seu aço com preços
subsidiados em outros mercados para manter empregos em seu país.
O governo brasileiro chegou a estabelecer uma regulamentação
para limitar a importação de nove itens (NCMs, ou Nomenclaturas Comuns do
Mercosul) do setor siderúrgico. As cotas de importação foram definidas pela
Câmara de Comércio Exterior (Camex), e o excedente estará sujeito a uma
alíquota majorada de 25% no Imposto de Importação. Mesmo assim, o setor
considera que foram medidas pouco eficientes e a escalada do aço chinês
entrando no mercado nacional se mantém firme em 2025.
“Então, o que o mundo ocidental praticamente fez? Estados
Unidos, México, Canadá e Chile impuseram proteções de 25%. Depois disso, toda a
Europa fez também. Depois, inclusive, a Turquia fez, que é um grande produtor e
exportador. Então, praticamente o mundo ocidental propôs essa proteção. E o
Brasil é o país mais atrasado nesse processo de decisão. Hoje, nós parcialmente
conseguimos, mas ainda há lacunas e a China vende com prejuízo grande”, disse.
Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 12/05/2025