
No cerne da corrida pela competitividade da indústria
brasileira em um contexto global de ampla disputa por mercados, uma logística
eficiente emerge, sem dúvidas, como uma base de sustentação decisiva para os
resultados das organizações.
Ao mesmo tempo, para que esses ganhos sejam colhidos, as
áreas de distribuição do setor industrial precisam superar desafios estruturais
que, diariamente, afetam a fluidez das operações ao redor do país.
Fato é que, em um cenário global marcado por incertezas
econômicas, transformações geopolíticas e alta concorrência, otimizar cadeias
de distribuição e reduzir custos logísticos não são somente metas de longo
prazo, mas um norte que já se coloca como determinante para a sustentabilidade
dos negócios.
Desafios logísticos para a indústria brasileira
E essa perspectiva é especialmente verdadeira para o Brasil,
país que une dimensões continentais e uma distância relativa considerável dos
principais mercados consumidores e que, por isso, enfrenta de largada desafios
geográficos que impactam diretamente na competitividade de sua indústria no
comércio exterior.
A infraestrutura logística nacional, apesar de alguns
avanços recentes em modais como o aéreo, ainda apresenta gargalos
significativos, como a concentração do transporte de cargas no modal
rodoviário, altos custos portuários e entraves burocráticos.
Não por acaso, de acordo com dados do MDIC (Ministério do
Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), o chamado “Custo Brasil” já
atinge R$ 1,7 trilhão, sendo a infraestrutura e a dificuldade logística
componentes centrais desta conta, que são avultados quando frequentes greves de
agentes públicos se fazem presente no âmbito do Comex.
Além disso, os custos de exportação são um fator crítico
para as empresas nacionais. Segundo um estudo da CNI (Confederação Nacional da
Indústria), os custos do transporte internacional são as maiores dificuldades
para os exportadores brasileiros, superando até mesmo barreiras tarifárias
impostas por outros países, fator inerente aos poucos tratados econômicos que o
governo brasileiro tem com grandes potências, o que dificulta a o favorecimento
das exportações para novos mercados.
O contexto geopolítico global, por fim, também adiciona
camadas de complexidade à logística internacional. Tensões comerciais entre
grandes economias, oscilações no preço dos combustíveis e disrupções nas
cadeias de suprimentos – como as ocorridas durante a pandemia de COVID-19,
apenas para citar um exemplo – evidenciam a necessidade de estratégias
resilientes e adaptáveis.
Estratégias para superar entraves
Para mitigar esses desafios, a indústria precisa adotar uma
abordagem logística estratégica e integrada. A escolha do modal de transporte,
por exemplo, pode ser um diferencial competitivo que depende de uma análise
minuciosa.
Sobre esse ponto, embora o modal marítimo seja predominante
no comércio exterior, em alguns casos, a adoção do transporte aéreo tem se
mostrado uma alternativa viável, especialmente para produtos de alto valor
agregado ou demandas urgentes.
Já a parceria com operadores logísticos especializados
também é um fator essencial. Contar com uma rede de distribuição bem
estruturada e fornecedores confiáveis reduz riscos e otimiza custos. Além
disso, investir em tecnologia para gestão da cadeia de suprimentos possibilita
maior previsibilidade, eficiência no planejamento de rotas e redução de
desperdícios.
Outro ponto crucial é a qualificação da equipe interna.
Profissionais capacitados para lidar com regulamentações aduaneiras, otimização
de processos e negociação de contratos internacionais tornam-se um ativo
estratégico para as empresas que buscam se consolidar no mercado externo.
A adaptação às variações econômicas e geopolíticas também
deve ser um pilar cultural de todo departamento logístico. Monitorar tendências
globais e entender as especificidades culturais dos mercados-alvo permite
ajustes ágeis, minimizando impactos de crises e aproveitando oportunidades
emergentes.
Eficiência e sustentabilidade: o novo diferencial
competitivo
Se antes a qualidade e o preço eram os principais fatores de
decisão de compra na economia, hoje, diante da grande oferta mercadológica e da
evolução de marcas que, em diferentes segmentos, competem com indicadores
qualitativos muito próximos, a eficiência logística se coloca um diferencial
competitivo inegável.
Nesse sentido, empresas que conseguem entregar seus produtos
com rapidez, previsibilidade e custos otimizados ganham vantagem em um mercado
global cada vez mais dinâmico e inovador.
Além disso, a sustentabilidade vem se tornando uma exigência
crescente na cadeia de suprimentos. Investimentos em soluções logísticas mais
sustentáveis, como a utilização de combustíveis alternativos, mudanças em
embalagens, otimização de cargas para reduzir emissões de carbono e o uso de
modais mais eficientes, não apenas reduzem impactos ambientais, mas também
atendem às novas exigências regulatórias e às expectativas dos consumidores.
Ou seja: em um cenário de concorrência acirrada, a
logística, mais do que nunca, é um trunfo decisivo na diferenciação das marcas.
Assim, indústrias que estruturam suas operações com foco em
eficiência, flexibilidade e inovação nas cadeias de distribuição certamente
estarão mais preparadas para expandir sua presença global e consolidar sua
competitividade no comércio exterior hoje e no futuro.
(*) Juliana Gatti é Gerente de Exportação e Atendimento ao Cliente da Starrett,
e Raguinal Fabiano é Gerente de Logística da Starrett, Felipe Pazinatto é
Supervisor de Exportação da Starrett.
Fonte: Comex
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 24/02/2025