
Mario Sergio Carraro Telles, 52 anos, superintendente de
Economia da CNI (Confederação Nacional da Indústria), disse que as
siderúrgicas dos EUA ganham com o aço semiacabado brasileiro. A declaração foi
dada em entrevista ao Poder360.
As siderúrgicas dos EUA transformam o aço brasileiro em
produtos que vendem para outras indústrias. O governo dos
EUA anunciou que elevará para 25% a tarifa para importação de aço e
alumínio brasileiros.
Analistas do mercado financeiro avaliam que há
risco de a alta de tarifas resultar em queda de US$ 700 milhões das exportações
de aço do Brasil para os EUA. Em 2024, foram de US$ 4,1 bilhões.
Telles disse esperar que a ajuda da produção brasileira favoreça a negociação para evitar a alta de tarifas. Foi assim em 2018, no 1º governo de Donald Trump (Republicano), que também tentou elevar tarifas.
Abaixo, trechos da entrevista:
PIB em 2025 – “Nossa expectativa é de 2,4%. Vai ser
muito ajudado pela agropecuária, com uma safra recorde até superior à de 2023.
Não fosse isso, ficaria abaixo de 2%. Em 2024, o crescimento foi de 3,5% com
peso negativo da agropecuária [dado ainda não fechado]”;
indústria – “Teve crescimento da produção em 2 anos seguidos [2023 e
2024] pela 1ª vez em quase uma década. A perspectiva para 2025 é em torno
de 2%. Vamos cair bastante [foi 3,1% em 2024]”;
política monetária – “Projetamos Selic de 14,75% em maio. O
aumento [a partir de setembro de 2024] leva de 6 a 9 meses para
chegar à economia real. Os últimos dados de 2024 são muito ruins. A Selic
chegou a 14,25% [em 2015] para lidar com a inflação que chegou a
12%. Não precisaria elevar a taxa de juros acima de 14,75% para lidar com
uma inflação que é metade daquela”;
retração do crédito – “Em 2024, as concessões de crédito cresceram 10%.
Esperamos 5% a 6% [em 2025]”;
impulso fiscal – “Terá em 2025 uma contribuição muito menor para a demanda
do governo federal e dos governos estaduais e municipais. O federal, em 2024,
aumentou em 3,1% as despesas primárias. Para 2025, projetamos 1,9%. Vai ser
muito menor nos governos estaduais e municipais. Em 2024 foi da ordem de 7%.
Para 2025, projetamos 1,5%”;
tarifas dos EUA – “Há perspectiva de inflação maior nos EUA. O
Fed [banco central do país] vinha reduzindo a taxa de juros. Na
última reunião, parou. O aumento de tarifas deve reduzir o comércio, com efeito
negativo sobre o crescimento econômico mundial. [O real deve ficar] mais
fraco em relação ao dólar. Isso tem efeito inflacionário no Brasil”;
real em relação a dólar – “Pelo efeito da taxa de juros e por as questões
com tarifas dos EUA estarem se dissipando, temos projeção de média do ano de R$
5,70 e em torno de R$ 5,50 em dezembro”;
gastos do governo federal – “As metas do arcabouço fiscal não são
suficientes para conter o crescimento da dívida pública. A gente projeta um
crescimento de 76% [do PIB] no final de 2024 para 79% em 2025. A
gente precisa defender no Congresso novas medidas para tornar o controle do
crescimento do gasto ainda mais forte. A política
fiscal [precisa] ajudar a política monetária para que a taxa de juros
caia”;
mercado de trabalho – “o número de pessoas ocupadas cresceu menos em 2024
do que nos anos anteriores, mas o rendimento real médio aumentou
significativamente. Os dois juntos cresceram 7%”;
reforma do Imposto de Renda – a gente espera que a proposta que o governo
federal vai mandar ao Congresso será neutro do ponto de vista fiscal, ainda que
venha a isenção até R$ 5.000 [mensais]. Isso vai ser compensado por aumento de
tributação e outras fontes;
fortalecimento da indústria – a reforma da tributação do consumo vai
ser fundamental para dar competitividade à indústria de transformação,
submetida à concorrência internacional. Em 2º lugar, há a nova política
industrial, que busca a inovação. O custo fiscal disso é muito
pequeno. [Permitirá] aumentar nossa autossuficiência em setor de
saúde e com medicamentos e uma série de outros produtos. Isso traz um alento
para que a gente comece a recuperar a participação da indústria no PIB. Não é
em detrimento dos outros setores. A indústria é um demandante muito grande da
agropecuária e dos serviços.
Fonte: Poder 360
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 24/02/2025